quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Resenha do Livro "Comunidade e Compromisso" de John Driver

Introdução

Em seu livro, “Comunidade e Compromisso”, John Driver se propõe a abordar a doutrina da igreja de forma prática, mostrando o plano de Deus no sentido de que sua igreja viva como uma comunidade compromissada com os valores de seu reino, que viva intensamente esses valores, de tal forma que seja um grande testemunho para os que estão à sua volta e que viva em antecipação o reino de Deus na terra.

Com estes propósitos, Driver fala da necessidade que a igreja tem de ser constantemente renovada de acordo com os princípios eternos da Palavra de Deus.

Mostra também o que é, como igreja, viver uma vida comunitária de acordo com os ensinos de Jesus e mostra ainda a necessidade de a igreja ser uma comunidade de perdão, que inclusive exerce a disciplina quando necessário, disciplina essa que visa à restauração dos que estão fracos na fé.

Driver ainda fala da importância dos dons espirituais no convívio da comunidade da fé, mostrando a necessidade de serem praticados debaixo do senhorio de Cristo. Também fala da igreja como uma comunidade de paz, onde é necessário que esta viva de acordo com o genuíno shalon de Deus.

Termina John Driver apresentando o ensino de que, como igreja, quando vivermos estes valores de comunidade e compromisso, nosso estilo de vida será um grande testemunho para a sociedade que nos cerca e assim ampliaremos nossa eficácia missionária como igreja.


Capítulo 1 – A Bíblia e a Renovação da Igreja

O escritor John Driver começa falando da necessidade de renovação do povo de Deus. Ele diz que esta não deve nos surpreender nem nos ameaçar, pelo contrário, “apelos para a renovação deveriam ser bem recebidos como sinal de vida e potencial para o crescimento ... Renovação autêntica na Igreja surge do desejo de conhecer a vontade de Deus a fim de experimentar dimensões mais profundas de obediência”.

“O povo de Deus não pode esperar uma renovação radical sem considerar suas raízes. A perspectiva histórica fornece um ponto de referência para a renovação, capacitando-nos a nos enxergar como realmente somos”

Driver afirma que “A renovação com base em um elemento normativo oferece boas possibilidades de mudança significativa”, portanto, “O Cristo normativo que há de determinar a forma do futuro renovado só pode ser conhecido na encarnação do passado”.

Driver faz uma breve apresentação da renovação radical na história do povo de Deus, passando pelos profetas do Antigo Testamento, Jesus, Paulo, Montano e Tertuliano e outros exemplos, concluindo que “somente a renovação que volta às suas raízes normativas e que está disposta a pagar o alto preço do arrependimento e da obediência será realmente radical”.

Driver mostra a importância da leitura e interpretação da Bíblia, mostrando quatro abordagens de interpretação bíblica que foram articuladas no decorrer da reforma do século XVI, as quais são: A regra da fé, a regra do amor, a regra de Paulo e a regra de Cristo. Conforme diz o autor, “Destas opções, apenas as duas últimas levaram à abertura que tornou possível uma boa observação do Novo Testamento para discernir o que fidelidade a Cristo poderia significar naquela época. Na renovação da Igreja a leitura e a interpretação da Bíblia têm um papel fundamental”.

Principalmente de acordo com a regra de Cristo, Driver propõe o estudo de cinco pontos que são abordados no restante do livro.


Capítulo 2 – A Vida Comunitária da Igreja

No segundo capítulo de seu livro, Driver fala sobre a vida comunitária da Igreja. Defende que “Compartilhar a vida no Corpo de Cristo implica viver em Cristo, em toda a plenitude inerente a essa relação e, por sua vez, conviver com nossos irmãos em uma expressão plena de vida comunitária”.

John Driver procura mostrar o significado de “comunhão” de acordo com seu sentido no Novo Testamento mostrando que “Está relacionado com compartilhar uma vida comum em todos os níveis da existência e experiência: espiritual, social, intelectual, econômico, etc”.

“A verdadeira comunidade cristã é criada e sustentada por uma fé comum, uma vida comum em Cristo, um compromisso de obediência comum a Cristo como Senhor, enfim, uma participação comum no Espírito”.

Driver fala sobre a Koinonia em Jerusalém e em Corinto e depois passa a falar o que Jesus ensinou quanto à vida na nova comunidade do Messias. Ouçamos o que diz: “Jesus convida seus discípulos a formar uma comunidade onde predomina um espírito de família, onde ninguém vive para si, onde um homem, ainda que precise deixar o que é seu, encontrará, entre seus irmãos, família, casa, e tudo o que precisar. As necessidades dos discípulos de Jesus, ainda que perseguidos, serão providas por um Pai amoroso que opera através de uma comunidade generosa”.

Fala também John Driver sobre Koinonia e irmandade, explicando que “irmandade significa amor e responsabilidade mútuas, plena participação de todos na família de Deus, um compartilhar pleno na realização da vida da Igreja”. Aponta também “dois perigos que representam uma ameaça ao desenvolvimento pleno da visão neotestamentária de comunhão e irmandade ... o individualismo e o institucionalismo”.

É interessante a conclusão a que chega Driver quando diz que “Ainda que, em certo sentido, possa haver comunhão e comunidade em um grupo amplo, para que a koinonia funcione em um nível profundo e prático é necessária a possibilidade de relações interpessoais diretas em pequenos grupos”.

O escritor John Driver termina o capítulo mostrando que para a verdadeira renovação é necessário que exista a verdadeira comunhão, pois “ao longo da história da Igreja, os movimentos de renovação que se tem preocupado em retornar a suas raízes, sempre tem redescoberto algo desta dimensão comunitária”.


Capítulo 3 – Uma Comunidade de Perdão

John Driver começa o terceiro capítulo defendendo que “A Igreja é essencialmente uma comunidade em que as pessoas transmitem o perdão de Deus umas às outras e, portanto, experimentam reconciliação de forma concreta e pessoal ... Pratica-se a disciplina na Igreja com o propósito de ajudar o irmão a viver sua vida de discípulo à altura de suas melhores intenções”.

Driver fala sobre o perdão no Novo Testamento, mostrando que “a Igreja é fundamentalmente definida como a comunidade na qual se liga e desliga ... nesta ação a Igreja atua como representante de Deus”. Driver mostra que “As passagens de João 14.26 e 16.12-14 também afirmam que a Igreja contará com a presença do Espírito no processo comunitário de discernimento que sempre será uma parte de seu ‘ligar e desligar’”.

Fala também John Driver sobre disciplina no contexto da comunidade da fé, mostrando que o propósito da disciplina determina sua forma e que o propósito da disciplina evangélica é sempre a reconciliação. Driver fala também das formas e intenções que tomam o exercício da disciplina: “O processo que leva à reconciliação é pessoal e deve ser desenvolvido no espírito de mansidão ... toda a irmandade é responsável pelo exercício da disciplina evangélica ... A restauração e a reconciliação são os únicos propósitos legítimos para o exercício da disciplina evangélica”.

Discorre também John Driver sobre a autoridade para a disciplina do Evangelho, mostrando que Deus perdoa aos homens através de sua comunidade; “a autoridade dada à Igreja é paralela à autoridade do próprio Cristo ... Concedeu a eles (e portanto também para nós) o mesmo poder de perdoar que ele havia reivindicado para si mesmo ... Deus realmente pode autorizar o homem a tomar decisões em termos de ‘perdão’ e ‘proibição’, decisões estas que serão honradas por Deus no Céu”.

Mostra ainda John Driver deformações e mal entendidos acumulados através da história da Igreja quanto ao conceito neotestamentário de disciplina e termina mostrando que a recuperação do que foi disciplinado conduz às ações de graças.


Capítulo 4 – Os Dons do Espírito na Comunidade

Neste capítulo, John Driver faz uma descrição dos dons espirituais citados nas Escrituras e em operação no corpo de Cristo, a Igreja, falando também do contexto ético dos textos onde se encontram tais listas de dons. Fala da importância do Senhorio de Cristo para a prática dos dons, enfatizando que “Todos os dons ... devem ser esperados, recebidos ... e exercidos ... Mas o exercício destes dons não é válido por si só. A autenticidade da expressão destes dons não deve ser aceita automaticamente. A norma segundo a qual se deve julgar a manifestação de todos estes dons é o senhorio de Cristo ... Se no exercício de algum dom espiritual nega-se o senhorio de Jesus, esse dom é falso ... O senhorio de Jesus é normativo para medir a autenticidade dos dons espirituais”.

Driver fala também do reconhecimento do princípio de que somos um corpo. Diz ele “A unidade acontece através de profundas relações de responsabilidade mútua que caracterizam o Corpo de Cristo ... O Corpo de Cristo está plenamente presente, à medida que todos os dons são plenamente exercidos para o bem comum ... A Igreja será plenamente corpo de Cristo à medida que todos os dons do Espírito forem reconhecidos e exercidos na comunidade”.

Driver fala de uma segunda norma para medir a autenticidade dos dons: “Todo desejo pessoal de auto-realização ou satisfação própria está subordinado ao critério daquilo que é ‘para a edificação da Igreja’”.

John Driver termina o capítulo mostrando que “Tem-se tentado muitas vezes classificar os dons do Espírito, de acordo com várias categorias. Mas estas classificações, em geral, são de utilidade bastante limitada”.

Conclui Driver mostrando que “A intenção do Espírito Santo é criar uma comunidade à qual os dons espirituais são concedidos para revelar o potencial de uma Igreja que vive antecipadamente o estabelecimento do reino já inaugurado por seu Senhor”.


Capítulo 5 – Uma Comunidade de Paz

Neste capítulo John Driver defende que “Uma das deformações mais evidentes da Igreja está relacionada ao conceito de paz que prevaleceu em grande parte de sua história”.

Driver fala da paz na tradição bíblica, mostrando que “Quer dizer principalmente bem-estar integral ou saúde plena, no sentido mais amplo, material e também espiritual. Relaciona-se com uma condição de bem-estar que resulta de relações autenticamente sãs, tanto entre as pessoas como entre elas e Deus”.

Fala também John Driver do conceito de paz entre gregos e romanos, e posteriormente fala da Nova comunidade de paz no Novo Testamento (A comunidade de shalom). “Nesta comunidade as diferenças e as barreiras que separam os homens são superadas ... o Espírito Santo cria uma nova comunidade caracterizada por uma profunda preocupação mútua e uma abertura de uns para com os outros ... O conceito de ‘propriedade privada’ é estranho ao espírito de shalom ... Como cristãos, somos promotores da paz (Mt 5.9)”.

Driver termina este capítulo dizendo que “A pessoa que foi alcançada pelo evangelho da paz e renovada pelo poder do Espírito de Deus não poderá admitir conscientemente a prática do egoísmo ... a competitividade ... o desejo da fama, o acúmulo de bens, a violência, os preconceitos ... a discriminação, a injustiça, a falta de piedade ... O cristão que é motivado pelo Espírito de seu Senhor, não pratica esta forma de vida ainda que a maioria da sociedade o faça. O pacificador não se deixará moldar pelo mundo”.


Capítulo 6 – Uma Comunidade Missionária

Neste último capítulo, John Driver fala da Igreja como uma comunidade missionária. “As formas de obediência concreta que se manifestavam nos vários aspectos da vida da Igreja cristã eram, por si só, uma poderosa mensagem missionária, acompanhada de seu testemunho verbal”.

Driver faz uma exposição do significado de Evangelho, mostrando que em seu uso original no Novo Testamento, “é a boa notícia a respeito do Reino de Deus que está para ser estabelecido entre os homens”. Fala também sobre o Reino de Deus, mostrando que “Este reino que se aproxima é muito especial. Tanto é, que João Batista insiste que nada menos que um ‘arrependimento’ é necessário para poder participar dele”.

Posteriormente, Driver define novamente evangelho como “a anunciação do Reino vindouro, o convite a arrepender-se e tomar parte do novo povo de Deus sob o senhorio de Cristo, o espírito e a forma desta nova vida em comunidade e, o poder do Espírito de Cristo para viver esta nova vida”.

Driver segue com uma reflexão do que significa evangelizar a partir do texto de Mt 28.18-20. “Convidar pessoas à salvação, como se esta pudesse existir à parte do discipulado, estava simplesmente fora de cogitação para Jesus e os apóstolos”.

John Driver termina dizendo quais são as implicações para a Igreja, da maneira de compreender a tarefa missionária tal qual ele a expõe neste capítulo. As implicações são as seguintes: A Igreja precisa experimentar novamente um evangelho atual; A tarefa central da evangelização é formar comunidades de discípulos; É necessário redescobrir o conceito neotestamentário do discipulado radical; A comunidade de Jesus Cristo é o reino no qual toda a história humana encontrará definitivamente seu significado.

Terminamos com uma última frase de Driver: “O critério verdadeiro para julgar a evangelização que praticamos é a formação de comunidade de discípulos que obedeçam a Jesus, custe o que custar”.


Conclusão

Concordamos com John Driver que a Igreja precisa estar sempre sendo renovada e acreditamos que a Igreja brasileira atual precisa passar por uma renovação radical. Aquilo que é apresentado no livro “Comunidade e Compromisso” de Driver sobre como a Igreja deveria ser, não é nem de perto aquilo que a Igreja brasileira realmente tem sido. A Igreja não tem estado disposta a passar por uma renovação ou avivamento bíblico. Na verdade pouco compromisso se tem tido com a Palavra de Deus e com a pregação do genuíno evangelho de Jesus Cristo.

O individualismo e o egocentrismo de nossos dias tem impedido as pessoas que ingressam na igreja de serem devidamente disciplinadas. A disciplina muitas vezes é vista como uma intromissão e se não houver sabedoria por parte dos líderes, certos atos de disciplina na igreja podem terminar nas barras dos tribunais.

Infelizmente, existe muita confusão quanto ao conhecimento e uso dos dons espirituais. Muitos não sabem que os possuem e, portanto não os usam. Outros usam dons para auto-promoção e sem submeterem suas vidas ao pleno senhorio de Cristo.

A igreja atual tem também confundido o verdadeiro conceito bíblico de paz com teologia da prosperidade e tem deixado de desfrutar do verdadeiro shalom de Deus para seu povo.

Com todos esses distúrbios, nosso testemunho tem sido falho e sem um testemunho verdadeiramente eficaz falhamos também como comunidade missionária.

Acredito que os valores listados neste livro são bíblicos e possíveis de serem praticados, embora acredito que só podem ser praticados num contexto de pequenos grupos.

Que Deus ajude a nossa igreja brasileira a se moldar de acordo com os padrões bíblicos neotestamentários que Ele estabeleceu para sua igreja!

História da Primeira Igreja Evangélica do Cambuci

OS ANTECEDENTES DO AVIVAMENTO

Tudo teve início no seio da amada Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci, por volta do ano de 1952. Conta-se que alguns irmãos se propuseram a orar mais, e a fazerem reuniões de oração nos lares, para que o Senhor despertasse a sua igreja. Sabemos que vários movimentos de avivamento na história da igreja começaram assim., com pequenos grupos de oração dispostos a buscar a presença do Senhor. A partir deste ponto, vamos reproduzir alguns trechos da entrevista dada por uma testemunha ocular dos acontecimentos, o Pr. Mário Bovi ao Pr. Autilino de Souza que a reproduziu em seu livro “Tomemos Posse”. Diz o Pr. Mário Bovi: “Foi impressionante e até inesperado o grande interesse pelas reuniões de oração nos lares, chegando a quase cem o número de reuniões de oração em favor da igreja... Ao mesmo tempo que os grupos de oração estavam clamando pela igreja, um servo de Deus na outra América estava orando também ao Senhor, quando foi tocado por Deus para vir ao Brasil para aqui ser instrumento divino de um avivamento espiritual. O nome dele é Raymond Boatright. Aqui chegando, ele se dirigiu à cidade de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, onde residia um seu patrício, o Reverendo Harold Williams. Naquela cidade, o Pr. Raymond Boatright uniu-se à família Williams e um total de sete pessoas oravam todos os dias para saber a vontade de Deus. Os dias iam se passando e eles não tinham nenhuma resposta até que ele se pôs diante do Senhor e disse claramente: “Senhor, tu me enviaste aqui, para trazer um avivamento a este país, mas onde está este avivamento?” Quando acabou de orar nesses termos, a resposta veio: “O avivamento está ali na esquina.” Movido por esta palavra, o Pr. Raymond Boatright dirigiu-se à esquina próxima à casa onde estava hospedado e viu no meio da rua uma mulher terrivelmente endemoninhada, pessoa conhecida da cidade. Ele não perdeu tempo, foi em direção a ela. O Reverendo Williams tentou detê-lo dizendo: “O que você vai fazer? Esta moça é filha do prefeito da cidade; se você tocar nela, não sei o que poderá acontecer...” Ao que o Pr. Raymond respondeu: “Mas o Senhor falou-me claramente que o avivamento está na esquina!” Em seguida expulsou da moça os demônios ficando ela totalmente liberta. A notícia espalhou-se pela cidade tão depressa que no dia seguinte pela manhã uma multidão se aglomerou defronte à residência dos Williams, que ficaram amedrontados, pensando em alguma represália pelo fato acontecido. O servo de Deus, sabendo que tudo estava sob o controle do Espírito Santo, saiu à rua e começou a orar pela multidão e dezenas de milagres começaram a acontecer na mesma hora: surdos passaram a ouvir, paralíticos saíram saltando de alegria, mudos e cegos eram libertados, e assim milagres iam acontecendo, começando naquela pequena cidade o avivamento espiritual que o Brasil estava necessitando.

O PODEROSO AVIVAMENTO NO BAIRRO DO CAMBUCI

Continua na narrativa o Pr. Mário Bovi: “Os líderes da Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci, tomando conhecimento da manifestação do Senhor naquela cidade, organizaram uma comissão com o consentimento do Reverendo Silas Dias, então pastor da igreja e também interessado no avivamento, e foram àquela cidade convidar os pastores Raymond Boatright e Harold Williams para virem a São Paulo realizar uma campanha na Igreja do Cambuci, o que prontamente aceitaram. O Reverendo Harold, residindo já a algum tempo no Brasil, seria o intérprete do pregador. A presença dos servos de Deus, a mensagem e o poder manifestados não só a Palavra pregada, mas nos sinais que se seguiram, causou um verdadeiro “reboliço” dentro da igreja... Entre os muitos milagres que presenciamos”, continua narrando o Pr. Mário Bovi “tive a oportunidade de ver um paralítico que veio conduzido numa cadeira de rodas. Ao ouvir a ordem e a oração para se levantar da cadeira e sair correndo pelo corredor do templo, ele obedeceu e foi imediatamente curado. Assim, ao longo dos dias, centenas de pessoas eram libertas de doenças e de demônios. Ao mesmo tempo, os membros da igreja iam sendo batizados no Espírito Santo, havendo reuniões que se estendiam madrugada adentro ou mesmo atravessavam toda a noite, tal era o afluxo das multidões que vinham de todos os bairros e até do interior. Era maravilhoso ver como as pessoas não tinham sono, não se cansavam, e o prazer de todos, era ficar ali vendo e contemplando as maravilhas que o Senhor estava operando, não havendo mais horário, nem planificação dos trabalhos.” O Reverendo Silas Dias e sua esposa, Dona Yolanda logo se identificaram com o movimento do Espírito Santo, sendo ele chamado algumas vezes ao Presbitério para explicar os fatos, mas não conseguia convencer os seus superiores eclesiásticos. Todavia, ninguém ousava interromper o que Deus estava fazendo; o que nos chamava a atenção era que o Pr. Raymond Boatright possuía algo que nós não tínhamos – era a unção e o poder de Deus, que mais tarde nós também recebemos, uma vez que fomos convencidos pelo Espírito Santo de que tudo era legítimo e de ordem divina. O trânsito sempre intenso na Rua Barão de Jaguará era interrompido pela massa humana que não cabia dentro das instalações da igreja. Guardas foram requisitados para controlar o trânsito, tal era o afluxo de milhares de vidas desesperadas e doentes, que esperavam a vez de receber sua oração e libertação. Um verdadeiro avivamento estava acontecendo e o nome do Senhor estava sendo exaltado. O inimigo era derrotado e vencido pelo poder do sangue de Cristo, sua Palavra e seu nome. Uma vez que tivemos que a convicção de que aquela obra era realmente do Senhor, empenhamo-nos nela. À medida que os dias passavam, os irmãos iam contando os fatos uns aos outros e a igreja ia se fortalecendo e dando cada vez mais lugar ao Espírito Santo. As visões, revelações e outras manifestações do Espírito Santo foram acontecendo. Não só os membros da igreja eram batizados no Espírito Santo recebendo dons como também pessoas de outras igrejas que corriam para ver o fenômeno. Mesmo na calçada e na rua muitos glorificavam a Deus, à medida que iam tomando conhecimento das maravilhas que estavam ocorrendo dentro do recinto da igreja. Uma vez que a multidão vinha não só de São Paulo, mas de outras cidades, e não havendo espaço para acomodar a todos, resolveram levantar uma tenda de lonas nos moldes destas de circo para realizar nela os cultos. É bom que se frise que a intenção dos líderes do trabalho não era organizar uma nova denominação, mas ministrar o conhecimento da Palavra e do poder do Espírito Santo, orientando os novos convertidos para que se unissem à igreja ou igrejas onde pudessem crescer na graça e no conhecimento do Senhor. Bastava o pregador perguntar uma só vez: “Quem quer receber a Jesus?”... Então grupos de cinqüenta e até cem pessoas de uma só vez vinham à frente, alguns derramando lágrimas de arrependimento, maravilhados com todas as manifestações do Espírito Santo. Era simples e espontânea a decisão das pessoas... Depois desta maravilhosa narrativa do Pr. Mário Bovi, vamos reproduzir aqui algumas das manchetes editadas num jornal da época (cuja cópia encontra-se nos arquivos da PIEC), datado de 17 de março de 1953. Eis as manchetes: “VEIO DOS E.U.A. FAZER MILAGRES NO CAMBUCI – MAIS DE 15 MIL CONSULENTES ATENDIDOS PELO PASTOR NORTE-AMERICANO, AO QUAL ATRIBUEM CURAS MILAGROSAS – NECESSITADOS DE TODOS OS RECANTOS DA CAPITAL BANDEIRANTE PROCURAM A IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO CAMBUCI – ERA VAQUEIRO EM SUA TERRA NATAL E CANTOU EM INÚMERAS ESTAÇÕES DE RÁDIO.” Outra manchete é a seguinte: “AS FILAS SE ESTENDEM NO BAIRRO DO CAMBUCI. SÃO NECESSITADOS DE TODOS OS QUADRANTES DA PAULICÉIA QUE PROCURAM RAYMOND PARA MITIGAR OS SEUS MALES, FAÇA CHUVA OU SOL, O MOVIMENTO É O MESMO NAS PROXIMIDADES DO TEMPLO.” Ainda outra manchete diz: “ENQUANTO O RECINTO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO CAMBUCI FICA APINHADO DE GENTE, LÁ FORA DUAS FILAS DUPLAS SE PROLONGAVAM POR MAIS DE DOIS QUILÔMETROS. BREVEMENTE, RAYMOND IRÁ AOS E.U.A. ADQUIRIR TENDAS DE LONA, A FIM DE MELHOR ATENDER O GRANDE PÚBLICO QUE O PROCURA.”

A ORGANIZAÇÃO DA PRIMEIRA IGREJA EVANGÉLICA DO CAMBUCI

Em função de todos estes acontecimentos que Deus promoveu, houve a exigência por parte do Presbitério Central da Igreja Presbiteriana Independente de que todos aqueles que tivessem abraçado tal avivamento espiritual se desligassem da referida igreja. Portanto, no dia 23 de janeiro de 1955, os irmãos se desligaram da Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci, fundaram em uma Assembléia Geral de Constituição a PRIMEIRA IGREJA EVANGÉLICA DO CAMBUCI. Nesta, que foi a primeira Assembléia da PIEC, foi eleito o Reverendo Silas Dias como pastor presidente da igreja, que já se iniciou com dezenas de membros. Além do pastor presidente, fizeram parte da fundação da igreja os seguintes presbíteros: Epaminondas Silveira Lima, Norival Silveira Lima, João de Assis Costa, Josias de Barros Pereira e Raul Rodrigues de Castro. Fizeram parte da fundação da igreja também os seguintes diáconos: Cassiano Rodrigues dos Santos, Roland Lima de Aquino, Benedita Pereira de Campos e Clélia Endrigo Costa. A PIEC teve sua sede inicial em um salão alugado à Rua Barão de Jaguará, 1156, onde eram realizados os cultos e demais eventos da igreja. Pouco mais de um ano depois da fundação da PIEC, o Reverendo Silas Dias deixou a presidência da igreja, sendo usado pelo Senhor na fundação de outra denominação chamada Igreja do Espírito Santo. Em seu lugar foi eleito como pastor presidente da PIEC, em 13 de maio de 1956, o pastor Cassiano Rodrigues dos Santos, que presidiu a igreja durante quase nove anos. Nestes primeiros anos a recém organizada igreja foi se consolidando e amadurecendo, sendo sempre abençoada pelo Senhor. Com a saída do pastor Cassiano Rodrigues dos Santos, assumiu a presidência da PIEC, em 9 de fevereiro de 1965, o pastor Mário Bovi, que narrou acima os acontecimentos referentes ao avivamento de 1953, e foi um poderoso instrumento de Deus na liderança da igreja por vários anos. O pastor Mário Bovi com seu jeito calmo e amoroso, foi o pastor que mais tempo permaneceu à frente do ministério da PIEC. Quase trinta anos depois de estar na liderança do trabalho; o pastor Mário Bovi, em 18 de junho de 1994, passou a presidência da igreja para seu genro, o saudoso pastor Valter Renzo, que esteve à frente do ministério por pouco mais de um ano. Em 7 de setembro de 1995, o pastor Élcio Augusto Lodos foi eleito o pastor presidente da PIEC, tendo pastoreado a igreja por pouco mais de dois anos. Recentemente, em 5 de dezembro de 1998, o pastor Ronaldo Guedes Beserra foi eleito como presidente da PIEC, embora já exercesse o cargo de pastor da igreja desde 2 de novembro de 1997. Muitos grandes homens e mulheres de Deus já passaram por esta igreja. Seria difícil citar todos os nomes e para não cometermos nenhuma injustiça esquecendo-nos de citar alguém, não especificaremos nenhum nome, certos, no entanto, de que Deus tem todos estes nomes diante de Si e certamente tem também muitos galardões a serem outorgados a estes mui dignos servos do Senhor. Muitos deles já estão na glória com o Mestre e outros ainda trabalham em vários outros ministérios e igrejas frutificando em prol do Reino de Deus. Esta certamente é uma obra levantada pelo Espírito Santo. Muitos vendavais já enfrentou, mas pela misericórdia de Deus continua em pé. E independentemente de quem a esteja liderando, cremos que assim continuará, pois a igreja é do Senhor. Sim, foi Ele mesmo, o Senhor Jesus quem disse: “...edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt. 16:18)

OUTROS TRABALHOS E DENOMINAÇÕES QUE DIRETA OU INDIRETAMENTE SURGIRAM EM DECORRÊNCIA DO PODEROSO AVIVAMENTO DE 1953

Ainda nos valendo das preciosas informações contidas no livro “Tomemos Posse”, do pastor Autilino B. de Souza, destacamos que como conseqüência do maravilhoso Avivamento ocorrido em 1953, além da organização da Primeira Igreja Evangélica do Cambuci, surgiram outros grandes trabalhos como a Cruzada Nacional de Evangelização sob a presidência inicial do Reverendo Harold Williams, trabalho esse que cresceu e se expandiu abundantemente. Temos também a Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia, que foi fundada e organizada pelo saudoso pastor Epaminondas Silveira Lima, que em 1957 se desligou da Primeira Igreja Evangélica do Cambuci para iniciar esta obra. A Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia cresceu e se espalhou por todo o Brasil. A Igreja O Brasil para Cristo também foi fruto do avivamento de 1953, sob a liderança dinâmica do também saudoso missionário Manoel de Mello. Veja o que o pastor Mário Bovi diz a respeito de Manoel de Mello: “... a sua vocação e o início de seu ministério se deram numa das tendas à Avenida do Estado, quando foi requisitado pelos pastores para orar por pessoas endemoninhadas. Ele era então diácono da Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Como tinha desejo de organizar um grande trabalho independente, começou suas primeiras reuniões no Teatro de Alumínio à Praça das Bandeiras em São Paulo, além de programas de rádio. Não possuindo meios para pagar o aluguel do teatro, nós mesmos pagamos os primeiros aluguéis. Dali o trabalho cresceu e se multiplicou.” Ainda queremos reproduzir uma narrativa interessante do pastor Mário Bovi sobre os efeitos do Avivamento de 1953: “Podemos dizer que a Igreja Batista Nacional, sob a liderança do pastor Enéas Tognini, a Igreja Cristã Presbiteriana; a Igreja Presbiteriana Renovada; a Igreja Metodista Wesleyana, entre outras, tiveram direta ou indiretamente a influência e os benefícios do poderoso avivamento acontecido em 1953 no bairro do Cambuci... Se somarmos as igrejas e congregações batistas, presbiterianas, metodistas, pentecostais e outras que receberam a sã influência do avivamento de 1953, chegaríamos a mais de seis mil e quinhentas, sem contar os inúmeros seminários e missões, com centenas de obreiros no país e no exterior.” Que depois desta linda narrativa, possamos ficar sedentos por um derramar genuíno do Espírito Santo e orar como o profeta Habacuque: “... aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e no decurso dos anos faze-a conhecida...” (Hc. 3:2).