quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Resenha do Livro "Comunidade e Compromisso" de John Driver

Introdução

Em seu livro, “Comunidade e Compromisso”, John Driver se propõe a abordar a doutrina da igreja de forma prática, mostrando o plano de Deus no sentido de que sua igreja viva como uma comunidade compromissada com os valores de seu reino, que viva intensamente esses valores, de tal forma que seja um grande testemunho para os que estão à sua volta e que viva em antecipação o reino de Deus na terra.

Com estes propósitos, Driver fala da necessidade que a igreja tem de ser constantemente renovada de acordo com os princípios eternos da Palavra de Deus.

Mostra também o que é, como igreja, viver uma vida comunitária de acordo com os ensinos de Jesus e mostra ainda a necessidade de a igreja ser uma comunidade de perdão, que inclusive exerce a disciplina quando necessário, disciplina essa que visa à restauração dos que estão fracos na fé.

Driver ainda fala da importância dos dons espirituais no convívio da comunidade da fé, mostrando a necessidade de serem praticados debaixo do senhorio de Cristo. Também fala da igreja como uma comunidade de paz, onde é necessário que esta viva de acordo com o genuíno shalon de Deus.

Termina John Driver apresentando o ensino de que, como igreja, quando vivermos estes valores de comunidade e compromisso, nosso estilo de vida será um grande testemunho para a sociedade que nos cerca e assim ampliaremos nossa eficácia missionária como igreja.


Capítulo 1 – A Bíblia e a Renovação da Igreja

O escritor John Driver começa falando da necessidade de renovação do povo de Deus. Ele diz que esta não deve nos surpreender nem nos ameaçar, pelo contrário, “apelos para a renovação deveriam ser bem recebidos como sinal de vida e potencial para o crescimento ... Renovação autêntica na Igreja surge do desejo de conhecer a vontade de Deus a fim de experimentar dimensões mais profundas de obediência”.

“O povo de Deus não pode esperar uma renovação radical sem considerar suas raízes. A perspectiva histórica fornece um ponto de referência para a renovação, capacitando-nos a nos enxergar como realmente somos”

Driver afirma que “A renovação com base em um elemento normativo oferece boas possibilidades de mudança significativa”, portanto, “O Cristo normativo que há de determinar a forma do futuro renovado só pode ser conhecido na encarnação do passado”.

Driver faz uma breve apresentação da renovação radical na história do povo de Deus, passando pelos profetas do Antigo Testamento, Jesus, Paulo, Montano e Tertuliano e outros exemplos, concluindo que “somente a renovação que volta às suas raízes normativas e que está disposta a pagar o alto preço do arrependimento e da obediência será realmente radical”.

Driver mostra a importância da leitura e interpretação da Bíblia, mostrando quatro abordagens de interpretação bíblica que foram articuladas no decorrer da reforma do século XVI, as quais são: A regra da fé, a regra do amor, a regra de Paulo e a regra de Cristo. Conforme diz o autor, “Destas opções, apenas as duas últimas levaram à abertura que tornou possível uma boa observação do Novo Testamento para discernir o que fidelidade a Cristo poderia significar naquela época. Na renovação da Igreja a leitura e a interpretação da Bíblia têm um papel fundamental”.

Principalmente de acordo com a regra de Cristo, Driver propõe o estudo de cinco pontos que são abordados no restante do livro.


Capítulo 2 – A Vida Comunitária da Igreja

No segundo capítulo de seu livro, Driver fala sobre a vida comunitária da Igreja. Defende que “Compartilhar a vida no Corpo de Cristo implica viver em Cristo, em toda a plenitude inerente a essa relação e, por sua vez, conviver com nossos irmãos em uma expressão plena de vida comunitária”.

John Driver procura mostrar o significado de “comunhão” de acordo com seu sentido no Novo Testamento mostrando que “Está relacionado com compartilhar uma vida comum em todos os níveis da existência e experiência: espiritual, social, intelectual, econômico, etc”.

“A verdadeira comunidade cristã é criada e sustentada por uma fé comum, uma vida comum em Cristo, um compromisso de obediência comum a Cristo como Senhor, enfim, uma participação comum no Espírito”.

Driver fala sobre a Koinonia em Jerusalém e em Corinto e depois passa a falar o que Jesus ensinou quanto à vida na nova comunidade do Messias. Ouçamos o que diz: “Jesus convida seus discípulos a formar uma comunidade onde predomina um espírito de família, onde ninguém vive para si, onde um homem, ainda que precise deixar o que é seu, encontrará, entre seus irmãos, família, casa, e tudo o que precisar. As necessidades dos discípulos de Jesus, ainda que perseguidos, serão providas por um Pai amoroso que opera através de uma comunidade generosa”.

Fala também John Driver sobre Koinonia e irmandade, explicando que “irmandade significa amor e responsabilidade mútuas, plena participação de todos na família de Deus, um compartilhar pleno na realização da vida da Igreja”. Aponta também “dois perigos que representam uma ameaça ao desenvolvimento pleno da visão neotestamentária de comunhão e irmandade ... o individualismo e o institucionalismo”.

É interessante a conclusão a que chega Driver quando diz que “Ainda que, em certo sentido, possa haver comunhão e comunidade em um grupo amplo, para que a koinonia funcione em um nível profundo e prático é necessária a possibilidade de relações interpessoais diretas em pequenos grupos”.

O escritor John Driver termina o capítulo mostrando que para a verdadeira renovação é necessário que exista a verdadeira comunhão, pois “ao longo da história da Igreja, os movimentos de renovação que se tem preocupado em retornar a suas raízes, sempre tem redescoberto algo desta dimensão comunitária”.


Capítulo 3 – Uma Comunidade de Perdão

John Driver começa o terceiro capítulo defendendo que “A Igreja é essencialmente uma comunidade em que as pessoas transmitem o perdão de Deus umas às outras e, portanto, experimentam reconciliação de forma concreta e pessoal ... Pratica-se a disciplina na Igreja com o propósito de ajudar o irmão a viver sua vida de discípulo à altura de suas melhores intenções”.

Driver fala sobre o perdão no Novo Testamento, mostrando que “a Igreja é fundamentalmente definida como a comunidade na qual se liga e desliga ... nesta ação a Igreja atua como representante de Deus”. Driver mostra que “As passagens de João 14.26 e 16.12-14 também afirmam que a Igreja contará com a presença do Espírito no processo comunitário de discernimento que sempre será uma parte de seu ‘ligar e desligar’”.

Fala também John Driver sobre disciplina no contexto da comunidade da fé, mostrando que o propósito da disciplina determina sua forma e que o propósito da disciplina evangélica é sempre a reconciliação. Driver fala também das formas e intenções que tomam o exercício da disciplina: “O processo que leva à reconciliação é pessoal e deve ser desenvolvido no espírito de mansidão ... toda a irmandade é responsável pelo exercício da disciplina evangélica ... A restauração e a reconciliação são os únicos propósitos legítimos para o exercício da disciplina evangélica”.

Discorre também John Driver sobre a autoridade para a disciplina do Evangelho, mostrando que Deus perdoa aos homens através de sua comunidade; “a autoridade dada à Igreja é paralela à autoridade do próprio Cristo ... Concedeu a eles (e portanto também para nós) o mesmo poder de perdoar que ele havia reivindicado para si mesmo ... Deus realmente pode autorizar o homem a tomar decisões em termos de ‘perdão’ e ‘proibição’, decisões estas que serão honradas por Deus no Céu”.

Mostra ainda John Driver deformações e mal entendidos acumulados através da história da Igreja quanto ao conceito neotestamentário de disciplina e termina mostrando que a recuperação do que foi disciplinado conduz às ações de graças.


Capítulo 4 – Os Dons do Espírito na Comunidade

Neste capítulo, John Driver faz uma descrição dos dons espirituais citados nas Escrituras e em operação no corpo de Cristo, a Igreja, falando também do contexto ético dos textos onde se encontram tais listas de dons. Fala da importância do Senhorio de Cristo para a prática dos dons, enfatizando que “Todos os dons ... devem ser esperados, recebidos ... e exercidos ... Mas o exercício destes dons não é válido por si só. A autenticidade da expressão destes dons não deve ser aceita automaticamente. A norma segundo a qual se deve julgar a manifestação de todos estes dons é o senhorio de Cristo ... Se no exercício de algum dom espiritual nega-se o senhorio de Jesus, esse dom é falso ... O senhorio de Jesus é normativo para medir a autenticidade dos dons espirituais”.

Driver fala também do reconhecimento do princípio de que somos um corpo. Diz ele “A unidade acontece através de profundas relações de responsabilidade mútua que caracterizam o Corpo de Cristo ... O Corpo de Cristo está plenamente presente, à medida que todos os dons são plenamente exercidos para o bem comum ... A Igreja será plenamente corpo de Cristo à medida que todos os dons do Espírito forem reconhecidos e exercidos na comunidade”.

Driver fala de uma segunda norma para medir a autenticidade dos dons: “Todo desejo pessoal de auto-realização ou satisfação própria está subordinado ao critério daquilo que é ‘para a edificação da Igreja’”.

John Driver termina o capítulo mostrando que “Tem-se tentado muitas vezes classificar os dons do Espírito, de acordo com várias categorias. Mas estas classificações, em geral, são de utilidade bastante limitada”.

Conclui Driver mostrando que “A intenção do Espírito Santo é criar uma comunidade à qual os dons espirituais são concedidos para revelar o potencial de uma Igreja que vive antecipadamente o estabelecimento do reino já inaugurado por seu Senhor”.


Capítulo 5 – Uma Comunidade de Paz

Neste capítulo John Driver defende que “Uma das deformações mais evidentes da Igreja está relacionada ao conceito de paz que prevaleceu em grande parte de sua história”.

Driver fala da paz na tradição bíblica, mostrando que “Quer dizer principalmente bem-estar integral ou saúde plena, no sentido mais amplo, material e também espiritual. Relaciona-se com uma condição de bem-estar que resulta de relações autenticamente sãs, tanto entre as pessoas como entre elas e Deus”.

Fala também John Driver do conceito de paz entre gregos e romanos, e posteriormente fala da Nova comunidade de paz no Novo Testamento (A comunidade de shalom). “Nesta comunidade as diferenças e as barreiras que separam os homens são superadas ... o Espírito Santo cria uma nova comunidade caracterizada por uma profunda preocupação mútua e uma abertura de uns para com os outros ... O conceito de ‘propriedade privada’ é estranho ao espírito de shalom ... Como cristãos, somos promotores da paz (Mt 5.9)”.

Driver termina este capítulo dizendo que “A pessoa que foi alcançada pelo evangelho da paz e renovada pelo poder do Espírito de Deus não poderá admitir conscientemente a prática do egoísmo ... a competitividade ... o desejo da fama, o acúmulo de bens, a violência, os preconceitos ... a discriminação, a injustiça, a falta de piedade ... O cristão que é motivado pelo Espírito de seu Senhor, não pratica esta forma de vida ainda que a maioria da sociedade o faça. O pacificador não se deixará moldar pelo mundo”.


Capítulo 6 – Uma Comunidade Missionária

Neste último capítulo, John Driver fala da Igreja como uma comunidade missionária. “As formas de obediência concreta que se manifestavam nos vários aspectos da vida da Igreja cristã eram, por si só, uma poderosa mensagem missionária, acompanhada de seu testemunho verbal”.

Driver faz uma exposição do significado de Evangelho, mostrando que em seu uso original no Novo Testamento, “é a boa notícia a respeito do Reino de Deus que está para ser estabelecido entre os homens”. Fala também sobre o Reino de Deus, mostrando que “Este reino que se aproxima é muito especial. Tanto é, que João Batista insiste que nada menos que um ‘arrependimento’ é necessário para poder participar dele”.

Posteriormente, Driver define novamente evangelho como “a anunciação do Reino vindouro, o convite a arrepender-se e tomar parte do novo povo de Deus sob o senhorio de Cristo, o espírito e a forma desta nova vida em comunidade e, o poder do Espírito de Cristo para viver esta nova vida”.

Driver segue com uma reflexão do que significa evangelizar a partir do texto de Mt 28.18-20. “Convidar pessoas à salvação, como se esta pudesse existir à parte do discipulado, estava simplesmente fora de cogitação para Jesus e os apóstolos”.

John Driver termina dizendo quais são as implicações para a Igreja, da maneira de compreender a tarefa missionária tal qual ele a expõe neste capítulo. As implicações são as seguintes: A Igreja precisa experimentar novamente um evangelho atual; A tarefa central da evangelização é formar comunidades de discípulos; É necessário redescobrir o conceito neotestamentário do discipulado radical; A comunidade de Jesus Cristo é o reino no qual toda a história humana encontrará definitivamente seu significado.

Terminamos com uma última frase de Driver: “O critério verdadeiro para julgar a evangelização que praticamos é a formação de comunidade de discípulos que obedeçam a Jesus, custe o que custar”.


Conclusão

Concordamos com John Driver que a Igreja precisa estar sempre sendo renovada e acreditamos que a Igreja brasileira atual precisa passar por uma renovação radical. Aquilo que é apresentado no livro “Comunidade e Compromisso” de Driver sobre como a Igreja deveria ser, não é nem de perto aquilo que a Igreja brasileira realmente tem sido. A Igreja não tem estado disposta a passar por uma renovação ou avivamento bíblico. Na verdade pouco compromisso se tem tido com a Palavra de Deus e com a pregação do genuíno evangelho de Jesus Cristo.

O individualismo e o egocentrismo de nossos dias tem impedido as pessoas que ingressam na igreja de serem devidamente disciplinadas. A disciplina muitas vezes é vista como uma intromissão e se não houver sabedoria por parte dos líderes, certos atos de disciplina na igreja podem terminar nas barras dos tribunais.

Infelizmente, existe muita confusão quanto ao conhecimento e uso dos dons espirituais. Muitos não sabem que os possuem e, portanto não os usam. Outros usam dons para auto-promoção e sem submeterem suas vidas ao pleno senhorio de Cristo.

A igreja atual tem também confundido o verdadeiro conceito bíblico de paz com teologia da prosperidade e tem deixado de desfrutar do verdadeiro shalom de Deus para seu povo.

Com todos esses distúrbios, nosso testemunho tem sido falho e sem um testemunho verdadeiramente eficaz falhamos também como comunidade missionária.

Acredito que os valores listados neste livro são bíblicos e possíveis de serem praticados, embora acredito que só podem ser praticados num contexto de pequenos grupos.

Que Deus ajude a nossa igreja brasileira a se moldar de acordo com os padrões bíblicos neotestamentários que Ele estabeleceu para sua igreja!